Referência na América Latina, Banco de Olhos fica sem córneas pela 1ª vez

O Banco de Olhos de Sorocaba (BOS) está sem estoque de córneas nesta sexta-feira (14). As atividades de captação e transplante no estado estão suspensas por causa da pandemia, no entanto, há muitos pacientes que não podem esperar.

Essa é a primeira vez que hospital fica sem estoque em 40 anos de atividade. A unidade é referência não só no país, mas em toda a América Latina. Segundo o coordenador técnico, Hudson Vergennes, ainda há algumas unidades disponíveis no BOS do Hospital Municipal do Tatuapé.

No entanto, como o uso está restrito, o material está sendo conservado em um meio não ideal para que dure por mais tempo. Essas condições podem comprometer a qualidade e característica da córnea, fazendo com que o paciente que a receba precise de outro transplante no futuro.

Recentemente, o Sistema Estadual de Transplante determinou a retomada do serviço, porém, a decisão ainda aguarda a manifestação da Secretaria Estadual de Saúde e do Governo do Estado.

No estado de São Paulo, os protocolos para captação de órgãos e tecidos foram restringidas drasticamente desde o dia 23 de março. Como resultado, o número de doações caiu para perto de zero.

No caso de doação de córneas, é preciso que o doador tenha a morte cerebral constatada.

Estoque de córnea está zerado no Banco de Olhos de Sorocaba (BOS) 14-08-2020 — Foto: TV TEM/Reprodução

Estoque de córnea está zerado no Banco de Olhos de Sorocaba (BOS) 14-08-2020 — Foto: TV TEM/Reprodução

Fila e captação de córneas

A projeção da fila de espera por um transplante de córnea no estado já chegou a cinco anos. Antes da pandemia, era de até 10 meses. Atualmente, há 3.174 pessoas na fila.

Somente na região de cobertura do BOS, o número de pessoas inscritas para o procedimento passou de 478 para 747. No início do ano, a média de captações de córneas mensais era de 1.236 pelo estado e 930 pelo BOS e, agora, está em 94 e 20, respectivamente, no mês de julho.

Consequências da espera

Vergennes explica que a demora no transplante pode acatar um agravamento no quadro de saúde e na necessidade de procedimentos cirúrgicos mais complexos, com maiores chances de insucesso.

“Hoje, existem técnicas cirúrgicas que são minimamente invasivas. Por exemplo, pacientes com edema ou inchaço da córnea secundário a uma lesão ou redução das células da sua camada mais interna, que é o endotélio. Com isso, a córnea perde sua transparência e o paciente passa a não enxergar”, explica o coordenador.

Para a médica oftalmologista e coordenadora da área de ensino em Oftalmologia do BOS, Adriana Forseno, outro agravante é o aumento dos casos de ansiedade e depressão de pacientes com baixa visão e que estão na fila de espera.

“Antes da pandemia, o paciente inscrito tinha uma estimativa de quanto tempo ele ficaria na fila. Às vezes, dependendo da região, isso levava em torno de três a quatro meses. Agora, a gente não consegue nem passar uma estimativa ao paciente, porque as captações de córneas nem voltaram”, lamenta a oftalmologista.

“Essa ansiedade da espera, agora, é muito maior. E não é só do paciente. Isso gera um impacto na família toda, aspecto negativo agravado nos casos de pacientes com os dois olhos comprometidos”, comenta.

Fonte: G1