Com pandemia, produção industrial tomba 9,1% e tem pior março desde 2002

A produção industrial brasileira desabou 9,1% em março, na comparação com fevereiro, conforme divulgou nesta terça-feira (5) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mostrando um forte impacto da pandemia de coronavírus no setor e na atividade econômica.

Trata-se do pior resultado para meses de março da série histórica da pesquisa, iniciada em 2002. É também a queda mensal mais acentuada desde maio de 2018 (-11%), quando o setor foi afetado pelas paralisações provocadas pela greve dos caminhoneiros.

Na comparação com março do ano passado, a queda foi de 3,8%, quinto resultado negativo seguido nessa comparação.

Com o tombo de março, a produção industrial passou a acumular no ano uma retração de 1,7%. Em 12 meses, tem queda de 1%.

Produção industrial mensal — Foto: Economia G1

Produção industrial mensal — Foto: Economia G1

Queda de 2,6% no 1º trimestre

A indústria registrou queda de 2,6% no 1º trimestre, na comparação com o 4º trimestre. “É a maior queda desde o segundo trimestre de 2018, que pega exatamente a greve dos caminhoneiros, quando caiu 2,7%”, destacou o gerente da pesquisa André Macedo.

Com o resultado de março, o patamar de produção retornou a nível próximo ao de agosto de 2003, ficando 24% abaixo do pico histórico, alcançado em maio de 2011 – em fevereiro essa distância era de 16,4%. O tombo de agora levou o setor a uma posição pior que a registrada com a greve dos caminhoneiros, em maio de 2018, quando o patamar ficou 23,9% abaixo do pico.

Vale lembrar, que o início das medidas restritivas provocadas pela pandemia e o período de confinamento não atingiu todo o mês de março. “O que a gente observa é que houve uma força maior das consequências do isolamento social no final do mês, com um número maior de plantas industriais concedendo férias coletivas e interrompendo a sua produção”, afirmou o pesquisador.

Segundo Macedo, os efeitos da pandemia sobre a produção industrial tendem a se prolongar, ao contrário do ocorrido com a greve dos caminhoneiros, que foi um movimento pontual.

“Pelo que a gente observa, você tem uma continuidade desse movimento de queda para o mês de abril e meses seguintes. Aquela queda da greve dos caminhoneiros foi reposta logo no mês seguinte, em junho, algo que a gente não vai conseguir observar pelo mês de abril”, avaliou.

Queda generalizada em março

Segundo o IBGE, houve queda de produção em todas as quatro grandes categorias do setor e em 23 dos 26 ramos pesquisados, evidenciando o aprofundamento das paralisações em diversas plantas industriais, devido ao isolamento social por conta da pandemia de Covid-19.

Entre as atividades, a queda que exerceu a maior pressão no índice geral foi a de veículos automotores, reboques e carrocerias (-28%), pior resultado desde maio de 2018(-29%). “O movimento de quarentena fez com que muitas empresas interrompessem o seu processo de produção, seja concedendo férias coletivas ou paralisando as atividades por determinados períodos”, destacou Macedo.

23 dos 26 ramos industriais pesquisados registraram queda em março, segundo o IBGE — Foto: Divulgação

23 dos 26 ramos industriais pesquisados registraram queda em março, segundo o IBGE — Foto: Divulgação

Outros destaques negativos em março foram os ramos de confecção de artigos do vestuário e acessórios (-37,8%), bebidas (-19,4%), couro, artigos para viagem e calçados (-31,5%), produtos de borracha e de material plástico (-12,5%), máquinas e equipamentos (-9,1%), produtos de minerais não-metálicos (-11,9%), produtos têxteis (-20,0%) e móveis (-27,2%).

As únicas altas foram registradas nos ramos de impressão e reprodução de gravações (8,4%), de perfumaria, sabões, produtos de limpeza e de higiene pessoal (0,7%) e de manutenção, reparação e instalação de máquinas e equipamentos (0,3%).

Já o resultado de março entre as grandes categorias econômicas, o maior tombo foi na produção de bens de consumo duráveis, afetado principalmente pela menor produção de automóveis. Confira:

  • bens de consumo duráveis: -23,5%
  • bens de capital: -15,2%
  • bens de consumo semi e não-duráveis: -12,0%
  • bens intermediários: -3,8%

Repercussão e perspectivas

O tombo da indústria em março veio acima do esperado. As expectativas em pesquisa da Reuters com economistas eram de queda de 4,7% na variação mensal e de 1,6% na base anual.

“O resultado veio ligeiramente pior do que esperávamos e sugere que devemos ter quedas significativas nos outros ramos da atividade e o PIB deve recuar de fato este ano 5%”, avaliou André Perfeito, economista-chefe da Necton.

De acordo com último boletim Focus do Banco Central, o mercado financeiro passou a projetar retração de 3,76% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2020. Já a previsão dos analistas para a produção industrial no ano é de uma queda de 2,75%.

Pesquisa divulgada pela Confederação Nacional da Indústria (CNI) mostrou que a pandemia de coronavírus derrubou a confiança do empresário industrial para mínimas históricas na passagem de março para abril.

Dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua Mensal (PNAD Contínua) do IBGE, mostraram que o número de postos de trabalho na indústria caiu -2,6% no 1º trimestre (ou menos 322 mil pessoas), na comparação com o 4º trimestre.

Com a crise, o Nível de Utilização da Capacidade Instalada (NUCI) da indústria brasileira atingiu em abril o menor patamar já registrado, segundo levantamento da Fundação Getulio Vargas. O indicador alcançou o percentual de 57,5% em abril, menor valor da série histórica iniciada em janeiro de 2001. Isso significa que, em média, o setor industrial operou com pouco mais da metade da sua capacidade total. Os segmentos mais impactados foram os de vestuário, veículos e couros e calçados.

Fonte: (G1)