Por que o sarampo voltou?

A situação mais grave é no Estado paulista. De 1 de janeiro a 17 de julho, a Secretaria de Estado da Saúde da São Paulo confirmou 484 casos em 25 municípios, a maioria, 75% (363), na capital.

O Pará, de acordo com o último boletim epidemiológico do Ministério da Saúde, contabiliza este ano 53 doentes, e o Rio de Janeiro, 11. Até o dia 12 de julho, o órgão havia registrado 426 casos da doença no país, em sete Estados, incluindo Minas Gerais, Amazonas, Santa Catarina e Roraima.

Para saber mais sobre a doença, a BBC News Brasil conversou com Regiane de Paula, diretora do Cento de Vigilância Epidemiológico da Secretaria de Estado da Saúde de São Paulo, e Eliane Matos dos Santos, médica da Assessoria Clínica de Bio-Manguinhos, unidade produtora de imunobiológicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).

1 – Por que o sarampo voltou?

A epidemia de sarampo é um fenômeno global. Dados da Organização Mundial da Saúde (OMS) e da Organização Pan-Americana da Saúde (OPAS) mostram que, em 2017, a doença foi responsável por 110 mil mortes.

Só nas Américas, entre 1 de janeiro e 18 de junho de 2019, foram 1.722 confirmações em 13 países: Argentina (5 casos), Bahamas (1 caso), Brasil (122 casos), Canadá (65 casos), Chile (4 casos), Colômbia (125 casos), Costa Rica (10 casos), Cuba (1 caso), Estados Unidos da América (1.044 casos), México (2 casos), Peru (2 casos), Uruguai (9 casos) e República Bolivariana da Venezuela (332 casos).

O Brasil, diz o Ministério da Saúde, vinha de um histórico de não registrar casos autóctones (adquiridos dentro do país) desde o ano 2000 – entre 2013 e 2015, ocorreram dois surtos, um no Ceará e outro em Pernambuco, a partir de casos importados.

Neste ano, casos notificados de sarampo no mundo cresceram 300% nos primeiros três meses em comparação com o mesmo período de 2018 — Foto: Reginaldo PradoNeste ano, casos notificados de sarampo no mundo cresceram 300% nos primeiros três meses em comparação com o mesmo período de 2018 — Foto: Reginaldo Prado

Neste ano, casos notificados de sarampo no mundo cresceram 300% nos primeiros três meses em comparação com o mesmo período de 2018 — Foto: Reginaldo Prado

Em 2018, no entanto, a doença reapareceu na região Norte, nos Estados do Amazonas, Roraima e Pará, trazida pelos venezuelanos que fugiam da crise. Já os vírus que atingiram São Paulo, este ano, vieram com pessoas que foram infectadas na Noruega, em Malta e em Israel.

O problema é que a cobertura vacinal da patologia no país está abaixo do patamar ideal, que é acima de 95%. Pelas informações do Ministério da Saúde, em 2018, este índice, relacionado à vacina tríplice viral em crianças de um ano de idade, foi de 90,80%. Em 2015, chegou a 96,7%.

2 – O que é o sarampo?

O sarampo é uma doença infecciosa aguda, de natureza viral, altamente contagiosa e que pode ser contraída por pessoas de qualquer idade. Sua transmissão se dá de forma direta, de pessoa a pessoa, por meio das secreções expelidas pelo doente ao tossir, espirrar, respirar e falar.

3 – Quais são os sintomas?

Os primeiros sintomas são febre alta, acima de 38,5°, com duração de quatro a sete dias, e manchas avermelhadas na pele (exantema maculopapular) – começam no rosto e atrás das orelhas, e depois, se espalham pelo corpo.

Geralmente, aparecem entre 10 e 12 dias após o contato com o vírus e podem vir acompanhados de tosse persistente, irritação ocular, coriza e congestão nasal.

Primeiros sintomas do sarampo são febre alta, acima de 38,5°, com duração de quatro a sete dias, e manchas avermelhadas na pele — Foto: Cristine Rochol/Prefeitura Municipal de Porto AlegrePrimeiros sintomas do sarampo são febre alta, acima de 38,5°, com duração de quatro a sete dias, e manchas avermelhadas na pele — Foto: Cristine Rochol/Prefeitura Municipal de Porto Alegre

Primeiros sintomas do sarampo são febre alta, acima de 38,5°, com duração de quatro a sete dias, e manchas avermelhadas na pele — Foto: Cristine Rochol/Prefeitura Municipal de Porto Alegre

Pequenas manchas brancas dentro das bochechas também são comuns de se desenvolver no estágio inicial da doença.

4 – Quais as possíveis complicações?

As mais comuns são infecções respiratórias (broncopneumonia e pneumonia, por exemplo), otites, diarreia grave e doenças neurológicas, como encefalite (inflamação do cérebro).

5 – Como é o tratamento?

Não existe tratamento específico para o sarampo. Para os casos sem complicação, é importante manter uma boa hidratação, suporte nutricional e diminuir a hipertermia. Quando o quadro se agrava e surgem, por exemplo, diarreia, pneumonia e otite média, essas situações devem ser tratadas, normalmente, com o uso de antibioticoterapia.

No caso de crianças acometidas pela enfermidade, a Organização Mundial da Saúde recomenda a administração de vitamina A, a fim de reduzir a ocorrência de casos graves e fatais.

6 – Como prevenir a doença?

A vacina é a medida de prevenção mais eficaz contra o sarampo.

7 – Quem deve se vacinar contra o sarampo?

Todo mundo que nunca tomou a vacina e todos aqueles que não têm certeza se já tomaram. Pelo Calendário Nacional de Vacinação, a tríplice viral, que ainda protege contra caxumba e rubéola, deve ser administrada aos 12 meses de vida, e a tetra viral – acrescenta varicela (catapora) à lista de doenças combatidas – aos 15 meses. Pessoas de 10 a 29 anos que não tomaram a vacina quando crianças precisam receber duas doses da tríplice viral. Na faixa etária de 30 a 49 anos, a dose é única.

8 – Por que os jovens de 15 a 29 anos são o foco das campanhas atuais?

Pessoas de todas as faixas etárias precisam ter as duas doses da vacina, porém, os jovens desta faixa etária nasceram em uma época em que a segunda dose não fazia parte do Calendário Nacional de Vacinação, assim, muitos não a tomaram e, por isso, não estão totalmente protegidos.

9 – Quando há surto, é preciso se vacinar novamente?

Não. Quem tiver se vacinado contra o sarampo conforme preconizado para sua faixa etária, não precisa receber a vacina novamente.

Profissionais de 15 a 29 anos são o foco da campanha contra sarampo deste ano — Foto: Abecassis/Secom Profissionais de 15 a 29 anos são o foco da campanha contra sarampo deste ano — Foto: Abecassis/Secom

Profissionais de 15 a 29 anos são o foco da campanha contra sarampo deste ano — Foto: Abecassis/Secom

10 – Para quem a vacina contra o sarampo não é indicada?

Pessoas com alergia grave ao ovo, pacientes em tratamento com quimioterapia, gestantes, portadores de imunodeficiências congênitas ou adquiridas, quem faz uso de corticoide em doses altas, transplantados de medula óssea e bebês com menos de seis meses de idade.

11 – Quem já teve a doença precisa se vacinar?

Não. Quem já foi infectado com o vírus desenvolveu anticorpos contra ele. Dessa forma, não precisa se vacinar e nem pegará a doença de novo.

12 – Do que a vacina é feita?

A vacina é feita de vírus vivo atenuado (enfraquecido) e atua de forma a estimular o sistema imunológico a desenvolver anticorpos para combater os “invasores”. Ela é administrada por injeção subcutânea.

13 – Quanto tempo ela demora para fazer efeito?

Em torno de duas semanas. Quem vai viajar para locais com incidência da doença e não foi vacinado antes, deve procurar um posto de saúde, pelo menos, 15 dias antes da viagem.

14 – A vacina tem efeitos colaterais?

15 – Onde tomar a vacina?

A vacina contra o sarampo está disponível gratuitamente o ano todo nas unidades básicas de saúde.

Em São Paulo, por causa do surto atual, a aplicação também tem sido realizada em postos volantes instalados em estações do Metrô, da Companhia Paulista de Trens Metropolitanos (CPTM), da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU), da ViaQuatro e da ViaMobilidade.

Há ainda a opção de tomar a vacina em clínicas particulares, só que, nestes locais, ela é paga.

Fonte: BBC