Na tarde desta sexta-feira, dia 17, o Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), realizou mais uma captação de órgãos. Desta vez, o paciente de 41 anos, teve morte encefálica em função de um Acidente Vascular Cerebral Hemorrágico (AVCH). Na ocasião, foram captados o coração e o fígado, que seguiram para o Hospital Samaritano de São Paulo e para o Hospital das Clínicas de Ribeirão Preto, onde poderão salvar a vida de pacientes que aguardam ao lado de mais de 49,3 mil pessoas por um transplante no Brasil. Seguindo o protocolo e respeitando o tempo de isquemia dos órgãos, sendo quatro horas para o coração e doze horas para o fígado, o transporte foi feito por via aérea e terrestre.
Em uma ação conjunta, o procedimento contou com a participação de um dos mais renomados cirurgiões cardiovasculares do país, Dr. Paulo Chaccur, que solicitou a presença da equipe de cirurgia cardíaca do HSV para realização da captação do coração. “Temos uma parceria de longa data com o Dr. Chaccur. Quando a cirurgia cardíaca começou aqui em Jundiaí, há muito tempo atrás, ele era um dos médicos que operavam no HSV. É sempre um aprendizado tê-lo aqui, já que é um profissional capaz de realizar qualquer tipo de cirurgia cardíaca, além do fato de que também visamos poder realizar transplantes no São Vicente no futuro. Sabemos que a instituição tem passado por diversas melhorias estruturais e que irão adicionar mais possibilidades de indicações cirúrgicas, como o transplante. Essa é uma ideia a ser construída, mas tudo sempre em prol da população”, conta o médico cirurgião cardiovascular do HSV, Dr. Luiz Carlos Bettiati Junior.
Doação em tempos de pandemia
A captação seguiu nos moldes da Nota Técnica nº 24, do Ministério da Saúde (MS), publicada em março deste ano, que autoriza a realização de transplantes de órgãos de doadores positivos para SARS-CoV-2.
A enfermeira Thais Fernanda Rocha Santos, responsável pela Comissão Intra Hospitalar de Transplantes (CIHT), esclarece que mesmo com a determinação, não são todos os órgãos que podem ser doados e que o processo permanece sendo rigoroso, a fim de preservar a saúde do receptor. “O único órgão que não está incluso nesta decisão é o pulmão, por razões óbvias, já que é um dos mais comprometidos pelo vírus. Ainda assim, são seguidos critérios rigorosos de aceitação do doador e a avaliação de risco-benefício para cada receptor”, explica.
A enfermeira vê com bons olhos a mudança. “Se não forem adotadas medidas agora, teremos um ano de 2022 ainda mais difícil para pacientes que esperam por um transplante“, relata ela frente aos dados do Registro Brasileiro de Transplantes, que indicou queda de 4,5% nas doações efetivas de órgãos para transplante no Brasil em relação a 2020, embora a taxa de notificação de potenciais doadores ter crescido 14% no mesmo período.
Os novos critérios para aceitação da doação variam em caso de doadores vivos ou falecidos, e de acordo com o resultado do teste para SARS-CoV-2 no momento da captação do órgão. Há possibilidade de aceitação do doador falecido com teste positivo no momento da captação para transplantes de órgão, exceto pulmão, se o doador tiver apresentado início dos sintomas há mais de 10 dias, ou se não tiver história clínica de covid-19, por exemplo. Também é aceito caso o teste seja positivo até 72 horas antes da doação, e em condições específicas, se o paciente receptor tiver ou não história prévia de covid-19 com sintomas. Para doadores de transplante intervivos, em algumas situações, a recomendação é postergar o procedimento por no mínimo 28 dias a partir do início dos sintomas e, idealmente, por pelo menos seis semanas a partir do início dos sintomas, visando, nesse caso, além das medidas de precaução de transmissão do patógeno pelo transplante, a segurança do doador para realização de um procedimento cirúrgico eletivo pós-covid-19.
A primeira captação realizada seguindo as novas diretrizes ocorreu na última semana, quando a família de um senhor de 63 anos autorizou a doação, mesmo com o exame positivo para covid-19. Em 2020, enfrentando os desafios da pandemia, o grupo viabilizou a doação de órgãos de 13 pacientes, num total de 57 órgãos captados. Já em 2021, foram captados 73 órgãos de 14 doadores. “Nós temos uma atuação ativa, tendo como objetivo oferecer esperança aos que aguardam pelo transplante. Reforçamos a importância do diálogo do doador com os familiares, de expressar essa vontade. São essas pessoas que nos ajudam a salvar vidas”, finaliza Thaís.
Fonte: Hospital São Vicente