Os combustíveis, a energia elétrica e a carne estão entre os itens que mais têm pesado no bolso do brasileiro e na inflação oficial do país, que chegou a 9,68% no acumulado em 12 meses até agosto.
Se os preços desses itens tivessem permanecido estáveis em vez de dispararem, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) estaria abaixo de 5% e ainda dentro da meta fixada pelo governo para o ano. É o que mostra levantamento do Instituto Superior de Administração e Economia da Fundação Getúlio Vargas (ISAE/FGV).
Segundo o estudo, elaborado pelo economista e professor Robson Gonçalves, os itens gasolina, etanol, diesel, gás de botijão, energia elétrica e carnes vermelhas foram responsáveis por mais da metade da taxa acumulada em 12 meses até agosto, respondendo por 5,31 pontos percentuais do IPCA. Ou seja, sem esses 6 itens, a inflação seria de 4,37%, em vez dos atuais 9,68%.
“Essa inflação tem um aspecto que é difícil fugir dela. E a implicação disso que é que outros itens acabam sendo sacrificados para que se consiga pagar conta de energia, o botijão de gás, e assim por diante”, acrescenta.
Inflação muito acima da meta para o ano
Desde março, o IPCA acumulado em 12 meses tem ficado cada vez mais acima do teto da meta estabelecida pelo governo para a inflação par 2021, que é de 5,25%. A inflação persistente em meio a um cenário de piora da crise hídrica e de tensão política tem levado diversos economistas a preverem uma inflação maior para este e o próximo ano.
No último boletim Focus — levantamento semanal de expectativas do mercado realizado pelo Banco Central — a projeção para a inflação em 2021 passou de 7,58% para 8%. Para 2022, a previsão foi elevada de 3,98% para 4,10%.
Gasolina e energia são itens com maior peso na inflação
A disparada da gasolina e da energia elétrica tem um agravante extra pois são gastos essenciais e com maior peso na composição do IPCA entre os mais de 400 itens e subitens monitorados pelo IBGE para o cálculo da inflação oficial.
A gasolina tem um peso de 5,98% na taxa e a energia elétrica, 4,81%. Considerando a soma dos 6 itens da cesta do levantamento do ISAE/FGV, o peso chega a 16,23%. É por isso que a alta destes itens impacta tanto na inflação e na percepção de perda de poder aquisitivo.
Comparativo com outros países e fatores de pressão
Conforme mostrou reportagem do G1, no comparativo com os outros países da América Latina, a inflação do Brasil só fica atrás de Argentina e Haiti.
“A inflação está subindo no mundo inteiro, mas no brasil subiu mais. Se não fossem esses aumentos, nós teríamos uma inflação compatível com a dos EUA, que está hoje na faixa de 5,5%”, compara o professor do ISAE/FGV.
Analistas têm alertado que o controle da inflação tem sido afetado especialmente pela piora da crise hídrica e pelo câmbio, que tem refletido o aumento da tensão política e crise institucional provocada pelo presidente Jair Bolsonaro.
“Essa inflação, em grande medida, é resultado do dólar que cede por conta do clima político muito ruim. Carne é um produto de exportação, combustíveis são produtos transacionáveis. A energia tem uma influência hídrica, mas tem uma uma influência do dólar também quando você aciona as termoelétricas”, explica Gonçalves.
Nesta semana, o ministro da Economia, Paulo Guedes, admitiu que o “barulho político” tem impedido a queda da cotação do dólar.
Fonte: G1