Golpistas usam Instagram para aplicar fraudes em vendas on-line

Com mais de 1 bilhão de usuários, o Instagram se tornou, mais do que uma rede social, uma plataforma em que proliferam lojas, vendedores de serviços e pequenos comércios. Atualmente são mais de 25 milhões de perfis voltados para comércio.

Segundo dados de 2017 do Instagram, mais de 200 milhões de pessoas visitavam pelo menos um perfil de negócios na rede social. Números de 2015 afirmam que 60% dos usuários descobriam novos produtos pela plataforma. Não há estimativa de quanto dinheiro esse comércio movimenta.

Mas com o grande número de ofertas, é preciso tomar certos cuidados. As denúncias por fraude também aumentam e muitas pessoas acabam comprando produtos que não condizem com o que é anunciado, ou que nem sequer chegam ao consumidor.

Isto aconteceu com o analista financeiro Ewerton Dalpino, que comprou um tênis por meio de um anúncio do Instagram. “Eu pesquisei o tênis no Google. Depois, entrei no meu feed [do Instagram] e tinha um anúncio de uma loja com o preço bem mais barato. Cliquei, fui redirecionado para um site e fiz a compra com o cartão. Mas eu nunca recebi”, conta.

O analista financeiro Ewerton Dalpino sofreu golpe em compra pelo Instagram — Foto: Reprodução/Arquivo pessoalO analista financeiro Ewerton Dalpino sofreu golpe em compra pelo Instagram — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

O analista financeiro Ewerton Dalpino sofreu golpe em compra pelo Instagram — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Em janeiro deste ano, a administradora Amanda Cristina comprou, por meio de um depósito, dois pares de tênis anunciados em um perfil de uma importadora, que é bastante divulgada por famosos no Instagram.

O prazo era de cinco dias úteis, mas, de acordo com ela, foi só depois de dois meses e muitas reclamações que ela recebeu a encomenda, contendo apenas um dos pares. Quando abriu a caixa, o produto era diferente do que prometia o anúncio, afirma. “O pé esquerdo era costurado com linha branca e o direito com linha azul. Obviamente não era importado”, relata.

Administradora Amanda Cristina confiou em marca que anunciava no Instagram 'por ver a loja em perfis de famosos' — Foto: Reprodução/Arquivo pessoalAdministradora Amanda Cristina confiou em marca que anunciava no Instagram 'por ver a loja em perfis de famosos' — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Administradora Amanda Cristina confiou em marca que anunciava no Instagram ‘por ver a loja em perfis de famosos’ — Foto: Reprodução/Arquivo pessoal

Apesar disso, ela decidiu tentar recuperar o dinheiro do par não entregue. “Optei por ficar com metade do prejuízo. Supostamente fizeram um depósito na minha conta, mas o dinheiro nunca entrou”, diz.

Amanda fala que acabou confiando na marca “por ver a loja em perfis de famosos”.

Até a publicação desta reportagem, a página, com mais de 30 mil seguidores, estava no ar. “Eles apagam os comentários negativos, eu fiquei acompanhando”, conta.

“Eles ficaram me enrolando por 30 dias, dizendo que iam resolver, que iam enviar um comprovante dos Correios, e nunca enviaram nada. Então, depois de 60 dias, pedi cancelamento da compra, mas vi que no mês passado foi novamente debitada uma parcela”, relata. Como a compra foi feita pelo PayPal, ela vai tentar recuperar o dinheiro.

Dados de uma pesquisa sobre segurança on-line, realizada pelo PayPal no Brasil com quase 2,5 mil internautas que compraram na internet, revelam que 60% deles já ouviram relatos de amigos ou familiares que foram vítimas de fraudes na internet. Um a cada quatro deles já fez compras em sites duvidosos “porque era mais fácil que buscar o produto em outro site”.

Em buscas no “Reclame Aqui”, é possível encontrar pessoas que denunciam lojas presentes no Instagram e que vendem produtos que nunca entregam. Algumas têm até CNPJ e geralmente trabalham fazendo a cobrança por boleto bancário.

O Instagram afirmou que produtos falsificados e atividades fraudulentas prejudicam a experiência do usuário e que esse tipo de comportamento não é tolerado no Instagram.

“Temos diversos sistemas implementados para nos ajudar a detectar e remover atividades suspeitas antes que afetem os consumidores. Trata-se de um esforço contínuo que estamos empenhados em melhorar ao longo do tempo. Também construímos novos recursos que dão às pessoas o poder de gerenciar sua experiência com anúncios no Instagram e agir quando veem algo suspeito. Todos tipos de conteúdo dentro do Instagram, sejam publicações orgânicas, anúncios, Stories ou mensagens no Direct podem ser denunciadas para que possamos analisá-las”, disse a empresa em nota.

“Há golpes também na outra ponta da linha: empresas que criam robôs para forjar cliques em anúncios e links patrocinados. E aí quem anuncia é que se dá mal, porque pagou por cliques que, na verdade, não foram feitos por clientes em potencial”, afirma Canabarro.

Políticas do Instagram

Existem dois tipos de conta no Instagram, pessoais e comerciais. Não existem restrições para que uma conta seja transformada em comercial, mas recomenda-se que ela seja vinculada a uma página de empresa já existente no Facebook, que é dono do Instagram.

Com uma conta comercial, o usuário pode visualizar dados de acesso ao perfil e entender melhor a audiência.

Nas políticas de uso, especificamente na parte de denúncias de spam, consta a informação de que o Instagram não apoia que usuários abordem perfis e façam “uso da plataforma para comprar ou vender produtos e serviços”.

“Se um usuário do Instagram se oferecer para vender algo a você, recomendamos que ignore. Infelizmente, não poderemos ajudar se você comprar algo de uma pessoa desonesta no Instagram”, diz o material.

Nas políticas de anúncio do Facebook, que são as mesmas para anúncios no Instagram, consta que publicidade com conteúdo falso, equivocado ou sensacionalista são proibidos.

Atualmente, as compras não são feitas dentro do Instagram, mas no site de lojas cadastradas na plataforma. Quando alguma conta apresenta produtos à venda — como aqueles ícones de sacola —, o usuário é levado até o site da empresa que está comercializando.

O recurso para finalizar compras dentro do app, anunciado em março, está em testes nos Estados Unidos, e somente para algumas marcas escolhidas.

Especialistas reiteram que os cuidados com compras on-line em quaisquer sites valem também para o Instagram. O advogado do Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) Igor Marchetti e a coordenadora do Procon-SP, Renata Reis, dão as seguintes dicas:

  • Verificar se o CNPJ da empresa está ativo por meio do site da Receita Federal
  • Checar se existem reclamações sobre a empresa no Procon ou no “Reclame Aqui”
  • Consultar a lista de ‘evite esses sites’ do Procon
  • Confirmar se a plataforma de venda é brasileira, porque o código do consumidor não vale para sites e empresas estrangeiras
  • Registrar todo o processo de compra com prints da tela
  • Não agir por impulso
  • Verificar a origem da empresa e se ela tem canais de atendimento ao consumidor
  • Contatar a empresa antes de concluir a compra
  • Garantir que a compra está sendo feita em uma rede segura, evitando usar computadores de outras pessoas ou redes compartilhadas
  • Não usar número de seguidores como indicador de confiabilidade
  • Evitar boletos e transferências bancárias