Governo já trata tarifas de Trump como certas e vê recuo como improvável

Com a aproximação da data estipulada pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para a aplicação de tarifas de até 50% sobre produtos brasileiros, integrantes do governo Lula já trabalham com o cenário de que as cobranças não serão revertidas. Segundo fontes próximas ao presidente, a expectativa por um recuo norte-americano é considerada cada vez mais improvável.

Nos bastidores, a avaliação é que as tarifas têm motivação mais política do que econômica, especialmente após Trump relacionar as sanções comerciais ao julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no Supremo Tribunal Federal (STF). Em cartas públicas, o norte-americano criticou diretamente o processo contra Bolsonaro, chamando-o de “caça às bruxas” e vinculando as tarifas à atuação do Judiciário brasileiro.

As medidas devem entrar em vigor em 1º de agosto, e o governo brasileiro se prepara em três frentes: manter negociações formais com autoridades norte-americanas, sensibilizar parlamentares e empresários dos EUA sobre os impactos econômicos da medida, e estruturar uma eventual retaliação.

A tensão diplomática aumentou com a revogação de vistos de autoridades brasileiras, incluindo ministros do STF e o procurador-geral da República, Paulo Gonet. Isso foi interpretado como sinal de endurecimento da postura de Washington.

Nos últimos anos, Trump recuou em medidas semelhantes contra parceiros como China, México e União Europeia, mas interlocutores do Palácio do Planalto acreditam que o contexto com o Brasil é diferente. Para eles, as tarifas têm como pano de fundo um possível esforço de Trump para influenciar a política interna brasileira, mirando as eleições presidenciais de 2026 e uma possível volta de Bolsonaro ao cenário eleitoral.

O ex-presidente brasileiro, atualmente inelegível, é réu em ação no STF por suposto envolvimento em tentativa de golpe após a derrota nas eleições de 2022. Trump tem demonstrado apoio público a Bolsonaro, reforçando a polarização política entre os dois governos.

Enquanto isso, o governo Lula segue evitando anunciar oficialmente medidas de retaliação, apostando ainda em um último esforço diplomático, mesmo que a chance de sucesso seja considerada remota por seus próprios integrantes.

Fonte: BBC News Brasil