O poder da mente saudável na batalha contra doenças físicas

Quando pensamos em saúde humana, devemos pensá-la de maneira integral. Carl Jung, psiquiatra suíço e fundador da psicologia analítica, dizia: “Conheça todas as teorias, domine todas as técnicas, mas ao tocar uma alma humana, seja apenas outra alma humana.” Conforme adotado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), o conceito de saúde é definido como um estado de completo bem-estar físico, mental e social. Com base nesse princípio, fica claro que a recuperação física de um paciente depende desses fatores, ou seja, não apenas o corpo, mas também os aspectos mentais e sociais que influenciam sua saúde.

“Se dermos um passo para trás e pensarmos o processo de adoecimento e hospitalização como uma vivência que exacerba a vulnerabilidade humana e potencializa situações traumáticas, uma das maneiras de diminuir esse impacto é promover uma postura e comunicação acolhedora e empática, tanto pela equipe médica, quanto por todas as outras especialidades que constituem a rede de cuidado do paciente. Acolher e ter empatia pela vivência do outro, facilitar a criação de vínculo, estabelecer uma relação de confiança e dar suporte às tomadas de decisão para definição do melhor planejamento de cuidado para o paciente”, afirma a psicóloga do Hospital de Caridade São Vicente de Paulo (HSV), Bárbara Losqui.

A influência da mente sobre o corpo é evidente no dia a dia e, cada vez mais, comprovada pela ciência. Estudos em psicologia hospitalar apontam que estresse, ansiedade e depressão afetam não só a rotina, mas também o sistema imunológico, comprometendo a recuperação de pacientes internados, além de reforçar que intervenções como apoio emocional, psicoeducação e práticas integrativas aceleram a melhora clínica, reduzem o tempo de internação e aumentam a satisfação dos pacientes.

“Oferecer suporte psicológico efetivo aos pacientes internados envolve integrar o psicólogo às equipes multiprofissionais no planejamento terapêutico, além de promover ações grupais, terapias complementares e acolhimento também aos familiares. Essas iniciativas fortalecem o cuidado emocional e contribuem para uma abordagem mais humanizada e integral no ambiente hospitalar. Para além de uma doença, um número de leito, um corpo, existe uma pessoa com sua história e valores. Trazer essa reflexão à tona, nos torna mais suscetível a olhar para além da tecnicidade que permeia nossa atuação cotidiana”, pontua Bárbara.

Sinais

A profissional ainda explica que, durante a internação hospitalar, é comum que os pacientes passem por situações de estresse físico e emocional, sendo estes fatores intensificados a depender do setor, período hospitalizado, causa do adoecimento e comorbidades. Neste sentido, alguns sinais de alerta indicam para equipe assistencial a necessidade de apoio psicológico para o paciente.

Durante a internação, sinais de sofrimento emocional podem se manifestar de diversas formas, como ansiedade e medo excessivos — mesmo após explicações médicas claras —, especialmente relacionados ao diagnóstico, procedimentos ou ao futuro. Pacientes com histórico de transtornos mentais, uso de substâncias, tentativas de suicídio ou luto recente apresentam maior vulnerabilidade. Mudanças comportamentais significativas, como irritabilidade, isolamento, choro frequente, apatia ou agitação diante de situações simples, também são indicativos de alerta. Além disso, sintomas psicossomáticos como dores sem causa física aparente, insônia, taquicardia, falta de ar, alterações no apetite e no sono podem refletir sofrimento psíquico.

“O autocuidado é uma escolha necessária e imprescindível frente ao processo de adoecimento, não há resultados práticos/clínicos se não houver desejo de auto cuidar-se. A Organização Mundial da Saúde (OMS) considera o autocuidado um componente crítico para promover a saúde, seu conceito é amplo e envolve ações físicas, mentais, sociais e emocionais. Diante disso e em linhas gerais, é válido considerar que o autocuidado é uma tomada de decisão crucial frente a qualquer contexto de adoecimento”, conclui a psicóloga.