Não dá para pensar em futebol sem negros em campo. Certo? Sim, mas nem sempre foi assim. Nos primórdios, esse esporte era só para os membros da elite branca. Isso até o negro jundiaiense Miguel do Carmo, o Migué, mudar o jogo para sempre – e para muito melhor. É sobre ele e o campo que abriu para tantos outros negros craques de bola que trata o livro ilustrado “Antes do Pelé veio o Migué”.
Em tempos de racismo declarado em estádios de todo o mundo, especialmente o vergonhoso tratamento dado a Vinícius Junior na Espanha, surge a ideia deste livro. Vem para resgatar a memória de Migué e especialmente para conscientizar as novas gerações de que a cor da nossa pele não indica diferenças genéticas, é só mais ou menos melanina.
O livro é escrito pelo jornalista e biógrafo Edu Cerioni em linguagem simples e traz ilustrações de Ricardo Colombera para que a garotada conheça a história e seus pais e avós relembrem os feitos dos negros no futebol brasileiro a partir desse jundiaiense que defendeu a Ponte Preta de Campinas entre 1900 e 1904 – e que não precisou alisar os cabelos ou usar pó-de-arroz no rosto para disfarçar a cor da pele.
Migué é o pioneiro naquele que os negros ajudaram a transformar no país do futebol, que revelou o Rei Pelé, o único a vencer três vezes como jogador uma Copa do Mundo. A lista é grande de nomes de negros históricos nesse esporte e que são citados pelo autor, muitos com detalhes pitorescos, feras como Didi Folha Seca, Furacão Jairzinho, Dadá Maravilha, Cafu e os novos craques que vão sendo revelados a cada dia.
O jundiaiense jogava como center-half e trabalhava como segundo fiscal de linha da Companhia Paulista de Estradas de Ferro. Nasceu em 1885, antes da Lei Áurea, e morreu em 1932, com apenas 47 anos. Em 2017, em comemoração ao aniversário da Associação Atlética Ponte Preta, virou selo do Correio Nacional. Já Edu Cerioni atua no jornalismo diário desde 1984, com passagens por Jornal de Jundiaí, Correio Popular de Campinas, Jornal da Tarde/Estadão e Rede Bom Dia de Jornais, da qual foi editor-chefe até 2014. Neste mesmo ano, lançou o portal de notícias JundiAqui, que mantém no ar com informações diárias. Trabalhou ainda como freelancer para as revistas Quatro Rodas, Vogue Homem e jornal Folha de S. Paulo.
Trabalhou no Correio Popular por 7 anos e foi setorista por quase 2 anos da Ponte Preta. Setorista é quem acompanha o dia-a-dia do clube. E desde que ouviu sobre o primeiro negro do futebol brasileiro, por sinal um conterrâneo seu, o jornalista e escritor o considerou merecedor de um lugar especial na história esportiva.
Dono da Cadeira número 3 da Academia Jundiainse de Letras (AJL), Edu Cerioni é autor dos livros “Infinita é tua Beleza”, que resgata a história do maior e mais tradicional bloco de Carnaval de Jundiaí, o Refogado do Sandi, e de “Maria dos Pacotes”, sobre o mito das ruas.
Ricardo Colombera, apelidado de Lacraia, é ilustrador e tatuador em Jundiaí, com experiência de mais de 25 anos em desenho realista em preto e cinza.
A publicação tem revisão ortográfica de Nelson Manzatto. Para a revisão histórica, o autor convidou os negros José Mário Orlandi, diretor do Colégio Rosa de Jundiaí e que jogou basquete pelo time adulto da Ponte Preta nos anos 90, e Luiz Alberto Carlos, também membro da Academia Jundiaiense de Letras. São chamados de “olheiros”.
Antes de entrar com o projeto para aprovação, Edu Cerioni ouviu diferentes lideranças da comunidade negra de Jundiaí sobre ele e Colombera, dois brancos, produzirem o livro do Migué e todos consideraram positiva a iniciativa. Edna Oliveira, presidente do Clube Beneficente Cultural e Recreativo Jundiaiense 28 de Setembro, o clube negro mais antigo em atividade do país, por exemplo, disse: “Se vocês não fizerem, quem vai fazer? Façam, porque tem muito negro protagonista em diferentes momentos e áreas de atuação aguardando um necessário resgate histórico como trará este livro”.
A obra foi aprovada e tem incentivo pela Lei Paulo Gustavo (Lei Federal nº 195/2022) por intermédio da Gestão de Cultura da Prefeitura Municipal de Jundiaí. São 60 páginas em preto e branco, no formato 23×23 cm e preço de venda de R$ 50,00 cada livro.
CALENDÁRIO DE LANÇAMENTO
22 de novembro de 2024 / 19h – O lançamento oficial será no Clube Beneficente Cultural e Recreativo Jundiaiense 28 de Setembro. O DJ Roger cuidará da black music. E haverá uma novidade para Jundiaí: a exibição do curta-metragem “Migué”. O filme explora os desafios e obstáculos enfrentados pelo primeiro jogador negro durante um período de segregação racial no mundo. O projeto foi patrocinado pelo FICC – Fundo de Investimentos Culturais de Campinas, da Secretaria Municipal de Cultura e Turismo. O curta é dirigido por Kaíto Prado e produzido por Bantarvi Produções e 3House Filmes. Tem trilha sonora original e cenas gravadas nas cidades de Campinas e Jundiaí – no Expressa, antigo Complexo Fepasa – e uma ambientação fiel à época. O clube fica na rua Petronilha Antunes, 363, Praça da Bandeira. Entrada gratuita.
23 de novembro de 2024 / 9h – O autor faz roda de conversa com jogadores do projeto social Meninos do Alvorada, sobre a importância de se combater o racismo no futebol. Será na Biblioteca do Grupo Sol da Cidadania. É na Alameda das Palmeiras, 120, Vila Alvorada.
23 de novembro de 2024 / 19h – Noite de autógrafos dentro da programação da Flij – Festa Literária de Jundiaí, no Centro das Artes Professor Pedro Fávaro – vários autores estarão apresentando seus novos trabalhos neste dia. Fica na rua Barão de Jundiaí, 1.093, Centro.
11 de dezembro de 2024 / 19h – Noite de autógrafos na Revistaria do Maxi Shopping Jundiaí. Piso térreo, em frente da loja Vivo. O Maxi fica na avenida Antônio Frederico Ozanan, 6.000, Vila Rio Branco.
Em 2025 – Data a definir para noite de autógrafos em Campinas.