O diretor-presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antonio Barra Torres, disse nesta terça-feira (10) que a decisão de suspender os testes da Coronavac foi “técnica” e baseada no fato de as informações repassadas pelo Instituto Butantan serem “insuficientes” e “incompletas”.
Após a suspensão, o presidente Jair Bolsonaro comemorou a suspensão e considerou uma vitória sobre João Doria, governador de São Paulo.
A causa morte do voluntário da Coronavac foi suicídio. A informação foi divulgada pelo UOL e pelo Estadão e confirmada pela TV Globo no início da tarde desta terça-feira (10).
Polêmica sobre envio de dados
O diretor-presidente da Anvisa disse que ainda aguarda dados completos e que a suspensão está mantida até que todas as informações sejam prestadas. Torres afirmou que os testes só serão retomados após uma análise do caso por um comitê internacional independente de segurança.
“Documentos claros, precisos e completos precisam ser enviados a nós, o que não aconteceu”, disse Torres.
“O que recebemos ontem não nos dava nenhuma outra alternativa.”
Mais cedo, o diretor do Instituto Butantan, Dimas Covas, afirmou que “todos” os dados foram fornecidos à Anvisa.
“O efeito adverso grave (…) não tem relação com a vacina. Não podemos dar detalhes a vocês porque isso envolve sigilo. (…) O que eu afirmo a vocês é que esses dados estão todos nas mãos da Anvisa, estão todos fornecidos à Anvisa” – Dimas Covas, diretor do Instituto Butantan
Informação sobre o suicídio
Durante a entrevista nesta tarde de terça, o diretor-presidente da Anvisa foi perguntado se o Butantan informou que a causa da morte do voluntário foi suicídio.
“Objetivamente, não havia essa informação (sobre o suicídio) dentre as que recebemos ontem. Quanto a questão de ouvir ou não o Instituto Butantan, não é atribuição da agência tomar essa decisão” – Antonio Barra Torres, diretor-presidente da Anvisa
Torres afirmou que não era função da Anvisa procurar novamente o Butantan, e que as informações completas precisam ser enviadas pelos canais oficiais por um comitê independente. O diretor-presidente da Anvisa citou como exemplo o trâmite realizado pelos desenvolvedores da vacina de Oxford, que acionaram o comitê e teriam enviado os dados de forma completa para reverter a suspensão adotada em setembro.
Árbitro e disputa política
O diretor-presidente da Anvisa ressaltou ainda que a agência não é parceira de nenhum desenvolvedor laboratório ou instituto, mas, sim, o “árbitro” na análise dos procedimentos. “A imagem que coloco é a do árbitro entre aquilo que foi feito certo e ao arrepio da norma e emite seu juízo de valor”, afirmou Torres.
Sobre a alegação do Instituto Butantan de que a suspensão dos testes causou estranheza, o presidente da Anvisa argumentou que se trata de uma obrigação da agência paralisar os procedimentos na ausência de informações completas sobre eventos adversos.
“Quem se surpreende com uma decisão tomada por nós está se surpreendendo com algo que é óbvio. É nosso dever tomar decisões, não tomar é prevaricação. Não faremos. Iremos decidir, no momento certo, na hora certa, diante de documentos que nos respaldem, ou na ausência deles conforme aconteceu ontem”, disse Torres.
Torres não quis comentar as declarações do presidente Bolsonaro, em uma rede social, de que o episódio da suspensão dos testes é mais um em que “Jair Bolsonaro ganha”.
Desde o início da pandemia, Bolsonaro tem divergido do governador de São Paulo, João Doria, a quem o Instituto Butantan, vinculado à Secretaria de Saúde de São Paulo, é subordinado.
Histórico da interrupção
A Coronavac é uma das quatro candidatas a vacina contra o novo coronavírus (Sars-CoV-2) que estão sendo testadas no Brasil. O governo de São Paulo firmou acordo com o laboratório chinês Sinovac para compra de 46 milhões de doses e para transferência de tecnologia para o Instituto Butantan.
De acordo com a Anvisa, a interrupção foi determinada nesta segunda-feira (9) por causa de um “evento adverso grave”. Ainda na noite de segunda-feira, o diretor do Butantan, Dimas Covas, disse em entrevista à TV Cultura estranhar a decisão da Anvisa e afirmou que o evento adverso, um óbito, não está relacionado com a vacina.
Ataque cibernético e atrasos
A Anvisa afirmou que o evento adverso, que na verdade trata-se da morte do voluntário, ocorreu em 29 de outubro e foi notificada dentro do prazo. O comunicado foi enviado em 6 de novembro, mas não foi recebido por causa de ataques cibernéticos que afetaram sistemas do governo federal.
Ainda segundo a Anvisa, em 9 de novembro a agência recebeu, às 18h, uma segunda comunicação do Instituto Butantan. Pouco tempo depois, após reunir um corpo de especialistas, às 20h47 a Anvisa enviou comunicado para o instituto determinando a suspensão do estudo.
(Fonte: G1)