No último dia (10), a seleção brasileira comandada por Tite perdeu a final da Copa América (que era para ser disputada em 2020 na Argentina e na Colômbia) para nossos “hermanos portenhos” por 1 a 0 no estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro. O que isso significou de fato? Pouca coisa esportivamente falando (ou escrevendo), tirando o fato de os argentinos terem quebrado um jejum de 28 anos sem título de sua equipe profissional em gramados brasileiros.
Nunca é bom perder no esporte, porém os insucessos nos trazem aprendizados. Basta que queiramos ver o que o futuro nos apresenta e busquemos melhorar. O futuro da seleção que se vislumbra no horizonte é a Copa do Mundo do Catar, marcada para novembro e dezembro de 2022.
As Eliminatórias sul-americanas estão em andamento e, até agora, o Brasil nadou de braçadas. Lidera a competição qualificatória com 100% de aproveitamento – 18 pontos em seis vitórias, 16 gols pró e apenas dois contra. Classificam diretamente para o Mundial quatro selecionados do continente e o quinto melhor ainda disputa uma repescagem.
A questão atual do time de Tite é melhorar seu jogo (melhorar muito), pois a Copa América e as Eliminatórias oferecem os mesmos limitados rivais, exceto Argentina e Uruguai, que pela tradição de ambos sempre nos impõem dificuldades.
Outro problema dos dias de hoje é que, com o calendário europeu modificado após a criação da Liga das Nações, as grandes seleções do Velho Continente têm menos datas para amistosos. Testar forças com os europeus está praticamente impossível atualmente, o que nos impede de ver como o Brasil está perante os campeões mundiais Inglaterra, Itália, Alemanha, Espanha e França. Ou diante de times bons como Holanda, Bélgica e outros nem tão fortes.
Jogar bem na maioria das vezes e ter variação tática são estratégias que aproximam uma equipe de futebol das vitórias e dos títulos. Só que o elenco de Tite está patinando nestes quesitos, principalmente contra times mais retrancados. Nosso selecionado, hoje, está extremamente dependente do craque Neymar, que quando está bem nos deixa com boas chances de sucesso. Quando não está…
Na Copa América, vimos um time muitas vezes sem inspiração alguma, com transpiração é verdade, mas muito vinculado à categoria de Neymar. O camisa 10 também deve ser orientado por Tite a soltar mais a bola, ainda mais na fase recente do craque do PSG com a camisa amarela, atuando mais livre, como um ponta de lança, ou meia-atacante como preferem chamar os mais contemporâneos. Quanto mais Neymar carregar a pelota, mais pancada vai levar e menos rendimento coletivo vai ofertar ao time.
FALTA DE REPERTÓRIO
Lembro bem quando, em 2014, antes do Mundial disputado no Brasil (aquele dos 7 a 1 da Alemanha), entrevistei o jornalista Mauro Cezar Pereira, que na época era do canal ESPN Brasil. Mauro me disse que o time de Felipão precisava de repertório mais variado de jogadas para ter mais chances de chegar ao hexacampeonato, pois vivia dos louros da grande vitória diante da Espanha (3 a 0), na final da Copa das Confederações do ano anterior. Vivia, basicamente, do brilho de Neymar. E deu no que deu: um futebol “para o gasto” na maioria das partidas daquela Copa, passando de fase “aos trancos e barrancos”, até chegar à semifinal de 8 de julho de 2014 diante dos germânicos. E aí, meus amigos, gol da Alemanha, gol da Alemanha… Sete vezes gol da Alemanha!
Eu me recordo também que, em 2013, Tite treinava o meu Corinthians. No ano anterior, o Timão foi campeão da Libertadores (invicto) pela primeira vez em sua história e venceu o Mundial no Japão frente ao Chelsea. Aí, em 2013, a equipe piorou, piorou… Tite saiu e aproveitou o ano da Copa para fazer um “ano sabático”, voltando ao Parque São Jorge em dezembro de 2014.
Funcionou. O treinador (campeão brasileiro de 2015 com o Corinthians praticando um bom futebol) foi convidado para substituir Dunga na seleção em meados de 2016. O selecionado canarinho capengava nas Eliminatórias e irritava o torcedor. O Brasil deu a volta por cima com Tite e se classificou para a Copa da Rússia, em 2018.
No Mundial de três anos atrás, também faltou repertório ao Brasil de Tite, como agora. Aí entra a capacidade do técnico, obrigatória para a “volta por cima”. Hoje vemos alguns jogadores limitados e que não saem da equipe (Fred, Douglas Luiz e outros) e atletas em fases horríveis em seus clubes de origem, entre eles Gabriel Jesus, do Manchester City.
Com material humano limitado e sem variação tática, vamos chegar à Copa do Catar podendo até vencer, mas também corremos o risco de ficar pelo caminho, como em 2018, quando o Brasil parou na Bélgica nas quartas de final, perdendo por 2 a 1 e levando um vareio tático do treinador belga, o espanhol Roberto Martínez.
Para a imprensa, Tite fala difícil, rebuscado e totalmente fora do tom, afastando e irritando o torcedor brasileiro. Ele precisa “calçar as sandálias da humildade”, assumir seus erros e mudar. Quem sabe fazer mais um período sabático… Mudar o jeito de jogar do time e alguns convocados. Ter um “olho clínico” mais apurado quanto à qualidade técnica dos atletas e ser menos amigo de quem já foi comandado por ele anteriormente. Com isso, Tite vai potencializar a qualidade do elenco e de seu maior craque, Neymar. Este, aliás, deve jogar para o time e sem protecionismo ou privilégios. Dar o exemplo, assim como o treinador e o resto do elenco.
Se tudo isso ocorrer, a chance do hexa no Catar aumenta. Caso contrário, continuaremos reclamando, odiando nossa seleção, xingando o Tite e o Neymar e até torcendo contra o Brasil, como alguns fizeram na Copa América recentemente encerrada.
Texto: Paulo Ferro, jornalista