Nunes assume o lugar de Caboclo e tem como missão pacificar a CBF

Manter Tite como treinador da seleção.

Pedir aos jogadores que colaborarem com o país.

E homenageiem a população, que já sofreu e sofre, com a pandemia, com mais de 473 mil mortos, disputando e ganhando a Copa América.

Pedir para os atletas, não mandar.

Podem até atuar sob protesto.

Mas que entrem em campo, domingo, contra a Venezuela, no Mané Garrincha, abrindo a competição sul-americana.

Acalmar diretores, apavorados com a ameaça de demissão.

Ou seja, pacificar a CBF, depois do vexatório afastamento de Rogério Caboclo da presidência, acusado por assédios sexual e moral de uma funcionária.

Essa é a missão de Antônio Carlos Nunes, o vice-presidente mais velho da CBF. Mas amparado pelo secretário-geral Walter Feldman, que o acompanhará e o aconselhará 24 horas, todos os dias que estiver interinamente na entidade.

Nunes é ex-oficial da Força Aérea Brasileira (FAB) e da Polícia Militar do Pará. Daí o apelido de ‘Coronel Nunes’.

Foi prefeito biônico, escolhido pela Ditadura Militar, entre 1977 e 1980. Comandou a cidade de Monte Alegre, no Pará, sem a necessidade de eleição.

Participa do comando do futebol paraense há décadas.

Na CBF jamais teve voz efetiva.

É a segunda vez que assume interinamente a presidência da CBF. A primeira foi, entre 2017 e 2019, quando Marco Polo del Nero esteve afastado do cargo, para responder acusações de corrupção da Fifa.

A única intervenção importante de Nunes foi caótica. No dia 13 de junho de 2018, houve uma convenção da Fifa em Moscou. O motivo era a escolha do país que seria a sede da Copa de 2026. Toda a América do Sul havia combinado votar nos Estados Unidos, Canadá e México, em candidatura tripla. Nunes decidiu, ‘de forma própria’, votar em Marrocos. O dirigente acreditava que o voto seria secreto. Não sabia que cada voto seria revelado.

Foi um caos para acalmar os dirigentes dos países vizinhos que haviam combinado o voto com Marco Polo.

Nunes se tornou vice-presidente graças a Marco Polo, em 2015, em uma manobra para travar o então vice Delfin Peixoto. Como o estatuto previa que o vice mais velho assumiria a CBF, em caso de impedimento do presidente, Del Nero colocou Nunes, três anos mais velho que Delfin, seu inimigo político. Delfin morreria no acidente com o avião que transportava a Chapecoense, em 2016.

Nunes segue muito ligado a Del Nero.

Desta vez, Feldman monitorá todos os passos de Nunes.

Hoje haverá uma reunião sobre como ficará a administração da CBF, sem Caboclo. Ele já é tratado como ex-presidente, ninguém na entidade acredita que ele voltará ao cargo. Ou banido pelo Comitê de Ética ou renunciando. Está isolado, sem apoio significativo.

Apenas os oito vices podem concorrer ao cargo de Caboclo e cumprir o seu mandato até o final, em 2023. Antônio Aquino (Acre), Castellar Neto (Minas Gerais), Ednaldo Rodrigues (Bahia), Fernando Sarney (Maranhão), Francisco Novelletto (Rio Grande do Sul), Marcus Vicente (Espírito Santo), Gustavo Feijó (Alagoas) e Antônio Carlos Nunes (Pará).

O favorito para assumir a presidência da CBF é Castellar Neto, também ligado umbilicalmente a Del Nero. Com apenas 38 anos e ex-presidente da Federação Mineira de Futebol, ele é membro do Comitê Players Status, comitê da Fifa que trata de transferências internacionais.

Os jogadores e Tite teriam recebido com alívio a notícia do afastamento de Rogério Caboclo.

E estariam mais receptivos a conversarem com Nunes sobre a Copa América.

Não desistiram do manifesto contrário e o divulgarão amanhã, após a partida contra o Paraguai, em Assunção.

Mas há sinais de que poderão até reverter a decisão de não jogarem a competição.

E aceitar o ‘pedido’ de Nunes…

 

Fonte: R7