É lamentável a falta de consciência humana, que mesmo sabendo dos perigos fatais do ilegal cerol – feito à base de vidro moído e cola – continua sendo usado, colocando em risco a vida de aves e pessoas, que não visualizam a linha devido à sua transparência.
Soltar pipa é uma brincadeira que põe em risco a vida de animais silvestres. Apesar de várias campanhas sobre o perigo do uso de linhas cortantes, há pessoas que insistem nessa prática, que pode até ser fatal, não só para aves, mas também para pessoas, principalmente motociclistas e ciclistas, já que o cortante fica invisível, sendo de alto risco também para quem manipula e utiliza a “linha da morte”, como é popularmente conhecida esta linha, ou mesmo a “chilena”, preparada à base óxido de alumínio.
O atendimento rápido e a conscientização das pessoas sobre a necessidade de cuidados com os animais são fatores que facilitam o tratamento. A maritaca Willie – como foi batizada a ave – apesar do grave acidente, teve a sorte de ser avistada e socorrida pelo ambientalista João Carlos Gonçalves – o Kal -, ativista da Eco & Vida, quando encontrava-se caída no chão com as patas enroscadas em linhas de pipa com cerol, que deceparam um de seus pezinhos.
“Muitos deles morrem, seja pela queda, por ter órgão vital decepado, ou por falta de socorro. Willie teve sorte tripla, já que sobreviveu à queda e à lesão, e por ter o atendimento imediato”, explica Kal. Muitas vezes pode cortar a asa inteira, ou até pode cortar o animal ao meio”, explica Kal, que resgatou a ave em via de Várzea Paulista e levou para sua casa, no sentido de dar os cuidados que o animalzinho requer devido à mutilação.
“A opção de levá-la para casa, deve-se à uma experiência negativa que tivemos, quando resgatamos um sagui em Várzea Paulista e tivemos atendimento recusado pela Mata Ciliar de Jundiaí, alegando dificuldades internas”, revela o ativista da Eco & Vida, ao concluir: “Daí a importância de termos o nosso hospital veterinário para cuidar desses animais silvestres”, completou Kal, referindo-se ao projeto de construção desse espaço, promovido pela Eco & Vida.
Carinhosa, alegre e muito sapeca, Willie já faz parte da família Gonçalves, e o fato de não ter um de seus pés não evitou suas traquinagens. “Muito pelo contrário, ela sobe e desce uma escadinha de corda em seu viveiro. Literalmente, não fica parada. É o xodó da família”, reconhece a filha de Kal, Giovana Gonçalves, que batizou a maritaca de Willie.
Mascote de projeto do hospital veterinário
A Eco & Vida está com a campanha para construção do Hospital para Animais Silvestres de Várzea paulistas, justamente para atender e proteger animais silvestres, que devido aproximação da vida urbana às serras da região, e consequentes desmatamentos, estão sendo expulsos do seu habitat natural, colocando em risco suas vidas, sendo vítimas de atropelamentos, ataques de animais domésticos, descargas elétricas, armadilhas, tráfico de animais, mutilação por linha com cerol, entre outros aspectos de caráter criminoso. A entidade já tem a área e a campanha é para arrecadação de recursos para construção dos espaços de reabilitação de animais e também de educação ambiental, como forma de informar e incentivar a consciência ecológica e ambiental.
Diante do fato ocorrido com a maritaca, membros da Eco & Vida decidiram eleger Willie como mascote da campanha, estampando, além do selo oficial, em todo material de divulgação e nos produtos criados pelo marketing para comercialização, entre eles, os diversos modelos de camisetas personalizadas do projeto.
Legislação pertinente
A legislação paulista prevê que usar cerol é crime. Quem vende ou guarda cerol em casa pode pegar de dois a cinco anos de prisão, além de pagar multa.
No país, duas propostas de lei para eliminar a prática do uso de cerol e de outras linhas cortantes nas pipas estão em tramitação na Câmara dos Deputados. O Projeto de Lei 3228/20 proíbe o uso de pipa com cerol e similares em todo território nacional.
O Projeto de Lei 3358/20 tipifica o uso, a venda e o porte de cerol ou linha chilena como crime de perigo para a vida ou saúde de outros, com pena de três meses a um ano de detenção.
Colaboração/Texto e fotos: Dircélio Timóteo