Nascida em Jundiaí (SP), Leandra Gonçalves, de 37 anos, é pós-doutoranda no Instituto Oceanográfico da USP e fundadora da Liga das Mulheres pelo Oceano, movimento que reúne mais de 3 mil mulheres do Brasil e do mundo. Esta quinta-feira (11) é o Dia das Meninas e Mulheres na Ciência.
Os desafios impostos pela pandemia e distanciamento impactaram diversas áreas do mundo. Como tudo passou para o sistema remoto, as pesquisas acadêmicas também foram afetadas. A pós-doutoranda Leandra Gonçalves, de 37 anos, esteve durante um ano como pesquisadora visitante na Universidade da Califórnia em Santa Bárbara (EUA). Desse período, seis meses foram durante a pandemia.
Nesta quinta-feira (11) é celebrado o Dia Internacional das Mulheres e Meninas na Ciência, instituído pelas Nações Unidas. Ao G1, a pesquisadora de Jundiaí (SP) que estuda os oceanos contou que o projeto nos EUA teve o objetivo de analisar as políticas que regem a costeira e podem ser mais voltadas ao uso e conservação do ambiente marinho. Porém, a pandemia prejudicou.
“Tive uma parte da pesquisa prejudicada pela pandemia porque as atividades começaram a ser remotas. Eu perdi os últimos seis meses fazendo pela internet. O mais legal é fazer a troca de conhecimento com outros pesquisadores, mas tudo acabou sendo de forma digital”, explica Leandra.
Ainda de acordo com ela, o marido e o filho de 5 anos também moraram na Califórnia durante o período em que fez a pesquisa de julho de 2019 até julho de 2020. O estudo foi desenvolvido com outros dois pesquisadores.
A pesquisadora também enfrentou outro desafio relacionado à maternidade com a ciência. Aos cinco anos, o filho de Leandra já deseja seguir os passos da mãe e se interessa por tubarões.
“Acho que acabei influenciando ele um pouco. Meu marido também é pesquisador na área de Sociologia e na família apenas eu fui para a área do estudo sobre o oceano. Me tornei a ‘ovelha marinha’ (risos)”
Paixão pela ciência
As aulas de ciências durante o Ensino Fundamental possibilitaram para Leandra o primeiro contato com o estudo da natureza, mas foi a descoberta de um oceano de conhecimento que a motivou ir mais longe.
“Eu sempre ia ao litoral nas férias com minhas amigas, já que minha família não gostava de ir a praia. Na quinta série eu tive um professor de ciência e ele tinha um método o método experimental, sempre levava a gente no laboratório e possibilitava esse contato mais direto. Desde essa época eu já sabia que queria ser bióloga”, lembra.
A pesquisadora também fez parte do Greenpeace e da Fundação SOS Mata Atlântica. Segundo ela, o contato com as ONGs foi fundamental na linha de pesquisa a qual se dedica.
“A experiência que eu tive foi olhar para além da ciência. Hoje, o meu objeto de pesquisa é muito influenciado pelas ONGs. Uma das memorias que tenho foi a oportunidade de participar de uma expedição na Antártica, em uma pesquisa sobre baleais durante quatro meses. Foi uma experiência única”, lembra.
Liga das Mulheres pelo Oceano
A Liga das Mulheres pelo Oceano surgiu em março de 2019 após uma conversa entre uma jornalista, uma fotógrafa e Leandra. O movimento busca potencializar ações e ideias pela proteção do oceano sob a ótica feminina. São 2.600 mulheres que fazem parte da rede e estão espalhadas pelo Brasil e pelo mundo.
De acordo com Leandra, o mar ainda é um ambiente majoritariamente masculino e as pesquisas eram sempre embarcadas.
“Era muito masculino e muitas vezes hostil. Hoje as mulheres estão pelo mar a fora. Muitas atuam na marinha, como atletas ou pesquisadoras. Eu fui muito privilegiada em poder ocupar espaços muito importantes. A cada dia mais isso está mudando.”
Ainda segundo ela, o projeto opera de forma voluntária e por causa da pandemia foram impedidas de realizar ações que estavam em construção.
O mar não tem muita influência para as pessoas que moram distante dele e ensina para a gente o quanto somos dependentes da natureza.
A sensação que a gente tinha que as pessoas davam mais valor para a Amazônia do que para o mar, mas os dois são importantes. A ideia é conseguir falar pra fora da nossa bolha.”