Pressionado pelos preços dos alimentos, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), considerado a inflação oficial do Brasil, fechou 2020 em 4,52%, acima do centro da meta para o ano, que era de 4%.
Trata-se da maior inflação anual desde 2016, quando o índice ficou em 6,29%, segundo divulgou nesta terça-feira (12) o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
O resultado veio um pouco acima do esperado. Os analistas do mercado financeiro estimavam uma inflação de 4,37% em 2020, segundo a última pesquisa Focus do Banco Central.
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Inflação ao longo dos últimos anos — Foto: Economia G1
Apesar de ter ficado acima do centro da meta, a inflação oficial ficou dentro do limite pelo quinto ano seguido. Pela meta oficial estabelecida pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), o IPCA poderia ficar entre 2,5% e 5,5%.
Em 2019, o IPCA foi de 4,31%, ficando também acima do centro da meta para o ano, que era de 4,25%.
Inflação de dezembro é a maior desde 2003
Em dezembro, o IPCA ficou em 1,35%, acima dos 0,89% de novembro, pressionado principalmente pelo aumento a energia elétrica. Foi a maior variação mensal desde fevereiro de 2003 (1,57%) e o maior índice para um mês de dezembro desde 2002 (2,10%). Em dezembro de 2019, a variação havia ficado em 1,15%.
A energia elétrica representou em dezembro 0,40 ponto percentual da variação do IPCA.
“Tivemos dez meses consecutivos de bandeira tarifária verde, e em dezembro a gente teve a bandeira tarifária vermelha patamar 2, que tem custo adicional de R$ 6,24 a cada 100 kw/h consumidos. Essa mudança tarifária contribuiu bastante para esse resultado de alta de 9,34% no mês da energia elétrica”, destacou o gerente da pesquisa, Pedro Kislanov.
Alimentos foram os vilões da inflação
A principal vilã da inflação em 2020 foi a alimentação. Os preços do conjunto de alimentos e bebidas tiveram alta acumulada de 14,09% ao longo do ano, o maior aumento desde 2002 (19,47%).
Segundo o IBGE, os alimentos responderam sozinhos por quase metade da inflação do ano, com um impacto de 2,73 pontos percentuais sobre o índice geral.
De acordo com o gerente da pesquisa, a alta nos preços da alimentação foi influenciada, sobretudo, pela demanda por esses produtos, a alta do dólar e dos preços das commodities no mercado internacional. “Foi um movimento global de alta nos preços dos alimentos, num ano marcado pela pandemia de Covid-19”, destacou.
Dentre os itens da alimentação, os principais destaques de alta em 2020 foram o óleo de soja (103,79%) e o arroz (76,01%).
Depois da alimentação, o segundo maior impacto sobre a inflação de 2020 partiu da habitação, que acumulou alta de 5,25% no ano. Segundo Kislanov, esse aumento foi influenciado, sobretudo, pela alta no custo da energia elétrica (9,14%).
Já o terceiro maior impacto partiu de artigos de residência, que acumularam alta de 6% no ano, pressionados pelo efeito dólar sobre os preços de eletrodomésticos (5,18%) e equipamentos e artigos de TV, som e informática (18,75%).
O IBGE destacou que, em conjunto, os grupos de alimentação e bebidas, de habitação e de artigos de residência responderam por quase 84% da inflação de 2020.
Veja a inflação em 2020 para cada um dos 9 grupos:
- Alimentação e bebidas: 14,09%
- Habitação: 5,25%
- Artigos de residência: 6%
- Vestuário: -1,13%
- Transportes: 1,03%
- Saúde e cuidados pessoais: 1,5%
- Despesas pessoais: 1,03%
- Educação: 1,13%
- Comunicação: 3,42
Meta de inflação e perspectivas para 2021
Para 2021, o mercado financeiro subiu de 3,32% para 3,34% a previsão de inflação. Neste ano, a meta central de inflação é de 3,75% e será oficialmente cumprida se o índice oscilar de 2,25% a 5,25%.
Trajetória da taxa de juros
A meta de inflação é fixada pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Para alcançá-la, o Banco Central eleva ou reduz a taxa básica de juros da economia (Selic), atualmente em 2% – mínima histórica.
Os analistas do mercado passaram a projetar uma Selic em 3,25% no final de 2021 e em 4,75% em 2022.
Com o resultado do IPCA acima do esperado em 2020, porém, parte do mercado já projeta uma subida mais rápida da taxa de juros. “Estes dados somados aos do IGP-M divulgados hoje também dão o tom que o Banco Central deve iniciar a alta da Selic em breve. Acreditamos entre o primeiro e o segundo trimestre – e a taxa deve fechar o ano em pelo menos 4%”, avaliou André Perfeito, economista da Necton.
Com informações do G1