Suspeito de atropelar e matar ciclista em SP se apresenta à polícia e é liberado

O motorista José Maria da Costa Júnior, suspeito de dirigir o carro que atropelou e matou a ciclista Marina Kohler Harkot, de 28 anos, se apresentou na tarde desta terça-feira (10) ao 14º Distrito Policial de Pinheiros, na Zona Oeste de São Paulo. Ele foi indiciado por homicídio culposo e pela fuga do local, segundo os investigadores.

O suspeito tem 34 anos e chegou à delegacia por volta das 15h30, acompanhado do advogado de defesa. Costa Júnior prestou depoimento até 18h10 e ficou calado durante todo o tempo “por estar muito nervoso”, segundo o advogado.

A defesa informou que Costa Júnior fugiu após o atropelamento “porque se apavorou”. O atropelador declarou ao delegado que não tinha bebido na noite do acidente.

Depois do depoimento o suspeito foi liberado, apesar de o pedido de prisão preventiva ter sido feito à Justiça, mas que não havia sido apreciado pelo juiz até a última atualização desta reportagem.

Marina Kohler foi atropelada na madrugada do último domingo (8). Costa Júnior fugiu do local do acidente sem prestar socorro à vítima.

Na saída do suspeito da delegacia, houve protesto de cicloativistas, que tentaram impedir que o veículo onde estava José Maria da Costa Júnior deixasse o DP. Um dos ativistas chegou a sentar no carro do advogado para impedir a saída do motorista suspeito da delegacia.

Ciclista senta no carro onde estava o suspeito José Maria da Costa Júnior, acusado de atropelar e matar a ciclista Marina Kohler Harkot, de 28 anos.  — Foto: Abraão Cruz/TV Globo

Ciclista senta no carro onde estava o suspeito José Maria da Costa Júnior, acusado de atropelar e matar a ciclista Marina Kohler Harkot, de 28 anos. — Foto: Abraão Cruz/TV Globo

Ciclistas protestam no 14º Distrito Policial de Pinheiros, na Zona Oeste, onde o suspeito de matar a ciclista Marina Kohler Harkot foi ouvido.  — Foto: Abraão Cruz/TV Globo

Ciclistas protestam no 14º Distrito Policial de Pinheiros, na Zona Oeste, onde o suspeito de matar a ciclista Marina Kohler Harkot foi ouvido. — Foto: Abraão Cruz/TV Globo

Lei eleitoral

O delegado do caso solicitou a prisão preventiva de José Maria da Costa Júnior, mas ela ainda não foi apreciada pelo juiz. Para o acusado ser preso, a decisão precisa acontecer antes da meia-noite desta terça (10), porque nesta quarta-feira (11) começa a valer a lei eleitoral que impede prisões que não sejam em flagrante cinco dias antes da eleição, que acontece neste domingo (15).

Caso a Justiça decrete a prisão do motorista que atropelou a ciclista, ele só poderá ser detido até a meia-noite desta terça (10), justamente por causa da lei eleitoral.

Investigação

De acordo com a investigação, José Maria da Costa Júnior é o motorista do Hyundai Tucson que atingiu Marina, a cicloativista que pedalava na Avenida Paulo VI, na região do Sumaré, em São Paulo. Um motociclista, que estava no local e viu o acidente, seguiu o veículo e anotou a placa.

A polícia localizou o automóvel que atropelou Marina na madrugada desta terça (10). Ele estava dentro de um estacionamento no Centro da cidade. O para-brisa dianteiro estava estilhaçado devido ao impacto do atropelamento.

José Maria da Costa Júnior, suspeito de atropelar e matar a cicloativista Marina Kohler Harkot, de 28 anos. — Foto: Reprodução

José Maria da Costa Júnior, suspeito de atropelar e matar a cicloativista Marina Kohler Harkot, de 28 anos. — Foto: Reprodução

 

Segundo os funcionários do estabelecimento, o dono do carro é Costa Júnior, que mora em um prédio vizinho. Os policiais chegaram a ir até o apartamento que ele alugava, mas o imóvel estava abandonado. Uma porção de maconha foi apreendida no local.

Os agentes também fizeram buscas em outro imóvel onde o suspeito poderia estar, este em Inconfidentes, cidade de Minas Gerais, mas não o encontraram. O caso é investigado pelo 14º Distrito Policial (DP), em Pinheiros, como ‘homicídio culposo (sem intenção de matar) na direção de veículo automotor e fuga de local de acidente’.

O Hyundai Tucson foi levado para a delegacia na madrugada desta terça-feira (10). O veículo estava no nome de outro homem, que alegou que o carro foi vendido em 2017 — informação confirmada pelas investigações. A placa do carro também é de Inconfidentes (MG).

“Prender esse cara que fez isso é o que se espera. É o que manda a lei. A polícia tem que prender esse cara e esse cara tem que ir a julgamento”, disse o marido de Marina, Felipe Burato, à reportagem. “Mas para a gente, isso não vai trazer a Marina de volta. Isso não vai justificar a luta dela, não vai valer a luta dela. Para a gente, o que vale a luta dela é que isso [atropelamento com morte] não aconteça com mais ninguém”.

“Mas as pessoas morrem e não têm essa visibilidade que a Marina está tendo. Pedalar para a gente, agora e cada vez mais, é um ato político”, afirmou o marido da jovem. A policial militar Mariana de Morais Braga estava de folga no local do atropelamento e prestou socorro à vítima. Ela contou o que viu na madrugada do domingo (8).

“Ele [o motorista] não parou em nenhum momento. E mesmo após o impacto, ele fugiu. Ela [Marina] estava sem capacete, sem roupa refletiva, mas a via era bem iluminada. Provavelmente, ele poderia, com certeza, vê-la”, disse a PM Mariana.

A velocidade da Avenida Paulo VI, onde o acidente ocorreu, é de 50km/h e possui quatro faixas. A vítima estava na última, próxima ao parapeito.

Cicloativista e pesquisadora

Cicloativista morre atropelada na Zona Oeste de SP — Foto: Reprodução/Instagram

Cicloativista morre atropelada na Zona Oeste de SP — Foto: Reprodução/Instagram

Marina Kohler Harkot era cicloativista e tinha a bicicleta como principal meio de transporte. Além disso, também era pesquisadora de mobilidade urbana. Atuou no Conselho Municipal de Transporte e Trânsito e foi coordenadora da Ciclocidade (Associação de Ciclistas Urbanos de São Paulo).

Os pais de Marina lembraram o lado ativista e pesquisador da filha na luta pelo uso seguro da bicicleta como meio de transporte urbano. “O meio de transporte dela era a bicicleta. Não fazia sentido para ela usar ônibus, usar carro, mesmo na chuva”, afirmou Paulo Garreta Harkot, pai de ciclista.

“Minha preocupação sempre foi essa, como mãe, de dizer: ‘filha, mas, veja bem, a bicicleta é frágil, ela é vulnerável’. E ela, de certa maneira, sempre resistiu a isso, acreditando que a bicicleta, estando ali como meio de transporte, ia ser respeitada pelos carros por ser um processo de educação”, disse Maria Claudia Kohler, mãe de Marina.

Homenagens

Frases são escritas nas Avenida Sumaré e Paulo VI, na Zona Oeste de SP, em homenagem à cicloativista Marina Kohler Harkot. — Foto: Rodrigo Rodrigues/G1 SP

Frases são escritas nas Avenida Sumaré e Paulo VI, na Zona Oeste de SP, em homenagem à cicloativista Marina Kohler Harkot. — Foto: Rodrigo Rodrigues/G1 SP

Ativistas e colegas homenagearam Marina na segunda-feira (9). Eles escreveram frases nas avenidas Paulo VI, onde o atropelamento aconteceu, e Sumaré, que fica próxima.

Além das frases no asfalto, ocorreu um protesto, no domingo (8), em diversos pontos da cidade de São Paulo pedindo justiça pela ciclista e mais segurança no trânsito. Os manifestantes foram de bicicleta até a Avenida Pacaembu, onde o corpo de Marina era velado pela família, pararam na porta e bateram palmas.

Emocionados, os familiares de Marina saíram na sacada do imóvel e agradeceram o apoio. A mãe de Marina chorou e disse que a família está “totalmente despedaçada” com a tragédia. O corpo de Marina foi enterrado ainda na segunda (9) em Niterói, no Rio de Janeiro.

Protesto contra a morte de ciclista que atropelada na Zona Oeste de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

Protesto contra a morte de ciclista que atropelada na Zona Oeste de SP — Foto: Reprodução/TV Globo

(Fonte: G1)