O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta quinta-feira (14) que empresários precisam “jogar pesado” com o governador de São Paulo, João Doria, a fim de evitar um eventual “lockdown” no estado. Bolsonaro usou o termo “guerra” para se referir à disputa política.
“Um homem está decidindo o futuro de São Paulo. Está decidindo o futuro da economia do Brasil. Os senhores [empresários], com todo o respeito, têm que chamar o governador e jogar pesado, jogar pesado, porque a questão é séria. É guerra”, disse o presidente.
Bolsonaro fez a declaração durante videoconferência com empresários e o presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), Paulo Skaf. O encontro virtual discutiu a necessidade de retomada da economia em meio à pandemia do novo coronavírus.
No encontro, Bolsonaro disse que, se dependesse dele, o Brasil adotaria o isolamento vertical e seguiria o exemplo da Suécia – país nórdico que já admitiu erros na estratégia de enfrentamento à Covid-19.
Segundo levantamento junto às secretarias estaduais de saúde, até esta quinta foram registradas no Brasil 13.555 mortes provocadas pela Covid-19 e 196.375 casos confirmados da doença.
Ao longo da conversa, o presidente voltou a criticar medidas de isolamento social adotadas por governadores como forma de tentar reduzir a velocidade do contágio do novo coronavírus. Para o presidente, um “apagão total” em São Paulo é “inimaginável”.
O secretário de Comunicação do governo, Fábio Wajngarten, discursou no mesmo sentido. Segundo ele, o governo federal deseja “o contrário” do que sinaliza o governo paulista.
Wajngarten pediu para que os empresários pressionem os governadores pela retomada das atividades da economia. O secretário afirmou, ainda, que a Presidência da República está do lado dos empresários.
“Então, pressionem os governadores, pressionem os governos a quem de direito. A Presidência da República está com vocês. O presidente Bolsonaro trabalha para vocês. O governo trabalha para vocês, a Presidência, aqui em Brasília. Pressionem a quem de direito, por favor. A gente é voz solitária aqui. Paulo [Skaf], lidere isso por favor”, disse Wajngarten.
Doria responde
No fim da última semana, o governador de São Paulo prorrogou as medidas de isolamento até o próximo dia 31.
Após a fala de Bolsonaro nesta quinta, Doria declarou em nota que, “mais uma vez”, o presidente da República “perde a chance de defender a saúde e a vida dos brasileiros”.
Doria disse que “São Paulo está lutando para proteger vidas”. Já o presidente, segundo ele, opta por “fazer comícios, andar de jet ski, treinar tiros e fazer churrasco” enquanto “milhares de brasileiros estão morrendo todos os dias”.
“Acorde para a realidade presidente Bolsonaro. Saia da bolha de ódio e comece a ser um líder se for capaz”, disse Doria.
Mais tarde, ao inaugurar um hospital em São Bernardo, Dória disse que Bolsonaro está “mais interessado em atender a um pequeno grupo de empresários” do que “defender a vida de brasileiros”.
Críticas a Maia
Na mesma videoconferência, Bolsonaro, sem citar o nome do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), criticou a entrega da relatoria da medida provisória 936 ao deputado Orlando Silva (PCdoB-SP). O texto flexibilizou contratos de trabalho na pandemia.
“Olha, se me permite, uma coisa: não é desabafo não, é uma realidade. Entregar a MP da flexibilização de contrato para o PCdoB, é para não resolver. Então tem gente que não é do governo, esta lá dentro de outra Casa, que não quer resolver o assunto”, disse.
“Parece que fez acordo com a esquerda. E não dá para fazer acordo com a esquerda, nós já sabemos qual é a linha da esquerda. É uma linha sindical, é uma linha que realmente que não está voltada para o desenvolvimento”, complementou.
Bolsonaro incluiu, ainda, críticas à tramitação da MP 910, que trata da regularização fundiária e perderá validade por falta de acordo na votação. O texto está no plenário da Câmara, mas os líderes já fecharam acordo para enviar um projeto de lei com teor similar, em vez de avançar a MP enviada pelo governo.
“É um absurdo, um absurdo. Agora, de acordo para quem o comando da Câmara, dá a relatoria, ele já sinaliza que não quer resolver nada. Parece que quer afundar a economia, para ferrar o governo, para talvez tirar um proveito político lá na frente. De quem?”, diz Bolsonaro.
Guedes e o veto a reajustes
Durante a videoconferência, o ministro da Economia, Paulo Guedes, voltou a defender a sanção do projeto de auxílio econômico a estados e municípios, e o veto à possibilidade de reajustes salariais a categorias de servidores públicos.
Desde a aprovação do texto no Congresso, na última semana, Bolsonaro vem dizendo que acatará as sugestões de Guedes. Até esta quinta, no entanto, a sanção ainda não tinha sido publicada.
“O presidente está disposto a fazer o veto, agora, ele vai fazer o veto, vai ter o custo político para depois os governadores pegarem os recursos e o Congresso derrubar o veto? Em vez de virar o dinheiro da saúde, vira o dinheiro de aumento do funcionalismo. Isso é moralmente errado, isso é tecnicamente um absurdo, é um suicídio fiscal”, disse.
Guedes pediu o apoio aos empresários, “que sempre financiaram campanhas eleitorais”, para que procurem parlamentares.
“Nós precisamos do apoio dos senhores, que sempre financiaram campanhas eleitorais, que têm acesso a todos os parlamentares, que têm intimidade com presidente da Câmara e presidente do Senado, os senhores têm acesso. Trabalhem esse acesso para nos apoiar. É importante que o dinheiro da saúde chegue na saúde, por isso que o presidente está considerando o veto”, afirmou.
Ao final da conversa, Guedes fez um adendo ao pedir que os empresários “esclareçam” parlamentares sobre a importância da ação do governo. O ministro disse acreditar na democracia e considerou “má leitura” afirmar que o governo pressiona outros poderes.
“A gente defende isso com certo entusiasmo e às vezes há uma má leitura disso. ‘Ah, eles tão querendo pressionar isso, pressionar aquilo’. Não é nada disso. Acreditamos no Congresso, acreditamos justamente de que a coisa vai dar certo no final”, disse Guedes.
(Fonte: G1)